Alberto Lisboa, jogador-treinador, campeão asiático de hóquei em patins
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“Em Macau a mentalidade desportiva está uns furos abaixo”
Helder Fernando -- em "Hoje Macau"
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Várias vezes campeão, como jogador e como jogador-treinador, Alberto Lisboa ama o hóquei em patins, pelo menos menos desde os cinco anos. Tem ajudado decisiva e brilhantemente, a levar o nome de Macau, através do hóquei, a vários lados do mundo. Benfica e Académica da Amadora antecederam a sua vinda para Macau. Quase 20 anos depois, este campeão ainda descobre forças para ganhar nos campos de jogo. Nos centros de decisão donde se espera mais decisivo apoio, é que as vitória custam mais.
Pode dizer-se que Alberto Lisboa é nome de campeão, e figura de enorme dedicação ao hóquei em patins. Quando calçou patins pela primeira vez e como aprendeu a abraçar definitivamente esta modalidade?
Foi aos três anos! Até aos cinco, basicamente patinagem. Lembro-me perfeitamente do primeiro jogo que fiz nessa altura, foi contra o Azeitonense, e ganhámos 5-3. Ia para a cama com os patins calçados, tal era a paixão pelo hóquei! O meu primeiro clube foi o Recreativo do Feijó, em Almada, e o meu pai foi o meu primeiro treinador. Foi ele que me incutiu o bicho do hóquei. Com 10 anos fui jogar para a equipa da Lisnave durante dois anos, quando recebi o convite para jogar no glorioso, onde estive nove épocas. Aqui, no Benfica, fui campeão nacional de Iniciados e Juvenis. Com idade de iniciado entrei na selecção de juvenis. Ainda no Benfica, tive o privilégio de ser orientado pelo melhor treinador de sempre, o Sr. Trocato Ferreira. Quando passámos a Séniores, a equipa desfez-se, e cada um ingressou noutros clubes. Fiz o meu primeiro ano de sénior na Académica da Amadora e no ano seguinte no Seixal, onde estive duas épocas até vir para Macau em 1991.
Em pequeno, presumo que assistia a muitos jogos de hóquei. Quem eram os seus heróis nessa época e mais tarde em plena juventude e já praticante organizado?
Sim, assisti a muitos jogos, a ver também se aprende muito, e eu via esta ou aquela finta, e depois no treino tentava fazer o mesmo O meu primeiro herói foi o meu pai, ele também jogou, foi colega do outro Lisboa, o mais famoso, o Zé Lisboa. Jogaram os dois juntos. Engraçado que anos mais tarde, eu e o filho do Zé Lisboa jogámos também juntos. O outro ídolo foi o grande Livramento, pena Apanhá-lo em fim de carreira. E outro ídolos, o Ramalhete, o Chana, o Leste, o Picas, e por ultimo o Vitor Hugo e o Pedro Alves, meu amigo e, para mim, a seguir ao Livramento, o melhor.
Até que aconteceu Macau. Quando e de que modo?
No Seixal, tinhamos subido à 2ª divisão, chegado às meias finais da Taça de Portugal, uma boa época. Sempre disse que na primeira oportunidade sairia de Portugal, até porque o hóquei não é para sempre e as condições de trabalho não eram as melhores, tinha de arriscar. Foi através dum vizinho meu que vivia em Macau e me desafiou. Lembro-me de ter perguntado ao meu pai, se ele ficaria muito chateado caso eu fosse para Macau. Por dentro, ele deve ter ficado triste, mas deu-me muita força, disse-me que eu era maior de idade e devia decidir o futuro. Foi o que fiz, encontrei Macau e cá estou!
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“Em Macau a mentalidade desportiva está uns furos abaixo”
Helder Fernando -- em "Hoje Macau"
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Várias vezes campeão, como jogador e como jogador-treinador, Alberto Lisboa ama o hóquei em patins, pelo menos menos desde os cinco anos. Tem ajudado decisiva e brilhantemente, a levar o nome de Macau, através do hóquei, a vários lados do mundo. Benfica e Académica da Amadora antecederam a sua vinda para Macau. Quase 20 anos depois, este campeão ainda descobre forças para ganhar nos campos de jogo. Nos centros de decisão donde se espera mais decisivo apoio, é que as vitória custam mais.
Pode dizer-se que Alberto Lisboa é nome de campeão, e figura de enorme dedicação ao hóquei em patins. Quando calçou patins pela primeira vez e como aprendeu a abraçar definitivamente esta modalidade?
Foi aos três anos! Até aos cinco, basicamente patinagem. Lembro-me perfeitamente do primeiro jogo que fiz nessa altura, foi contra o Azeitonense, e ganhámos 5-3. Ia para a cama com os patins calçados, tal era a paixão pelo hóquei! O meu primeiro clube foi o Recreativo do Feijó, em Almada, e o meu pai foi o meu primeiro treinador. Foi ele que me incutiu o bicho do hóquei. Com 10 anos fui jogar para a equipa da Lisnave durante dois anos, quando recebi o convite para jogar no glorioso, onde estive nove épocas. Aqui, no Benfica, fui campeão nacional de Iniciados e Juvenis. Com idade de iniciado entrei na selecção de juvenis. Ainda no Benfica, tive o privilégio de ser orientado pelo melhor treinador de sempre, o Sr. Trocato Ferreira. Quando passámos a Séniores, a equipa desfez-se, e cada um ingressou noutros clubes. Fiz o meu primeiro ano de sénior na Académica da Amadora e no ano seguinte no Seixal, onde estive duas épocas até vir para Macau em 1991.
Em pequeno, presumo que assistia a muitos jogos de hóquei. Quem eram os seus heróis nessa época e mais tarde em plena juventude e já praticante organizado?
Sim, assisti a muitos jogos, a ver também se aprende muito, e eu via esta ou aquela finta, e depois no treino tentava fazer o mesmo O meu primeiro herói foi o meu pai, ele também jogou, foi colega do outro Lisboa, o mais famoso, o Zé Lisboa. Jogaram os dois juntos. Engraçado que anos mais tarde, eu e o filho do Zé Lisboa jogámos também juntos. O outro ídolo foi o grande Livramento, pena Apanhá-lo em fim de carreira. E outro ídolos, o Ramalhete, o Chana, o Leste, o Picas, e por ultimo o Vitor Hugo e o Pedro Alves, meu amigo e, para mim, a seguir ao Livramento, o melhor.
Até que aconteceu Macau. Quando e de que modo?
No Seixal, tinhamos subido à 2ª divisão, chegado às meias finais da Taça de Portugal, uma boa época. Sempre disse que na primeira oportunidade sairia de Portugal, até porque o hóquei não é para sempre e as condições de trabalho não eram as melhores, tinha de arriscar. Foi através dum vizinho meu que vivia em Macau e me desafiou. Lembro-me de ter perguntado ao meu pai, se ele ficaria muito chateado caso eu fosse para Macau. Por dentro, ele deve ter ficado triste, mas deu-me muita força, disse-me que eu era maior de idade e devia decidir o futuro. Foi o que fiz, encontrei Macau e cá estou!
Encontrou um hóquei ainda bastante incipiente.
Sim, na altura o hóquei aqui não tinha nada a ver com o que eu praticava. Não digo em termos de qualidade, mas de a falta de competição, de treinos e poucas equipas. Foi complicado para quem, como eu, vivia com tanta intensidade o hóquei, Mas, com o tempo, isso foi sendo gerido melhor..
Não tem sido nada fácil impor esta modalidade em Macau. Tem ideia das razões de isso acontecer?
É verdade, é muito complicado. Penso que tem muito a ver com a cultura, o hóquei aparece como sendo nosso. Mas vai crescendo o número dos que gostam da modalidade, e vamos tendo alguns jogadores das comunidades chinesa e macaense. Sobre as dificuldades, há várias: a falta de espaço certo e gerido pela associação, falta de informação na comunidade chinesa, porque alguns pensam que é uma modalidade violenta, e não é verdade. Nos Mundiais realizados em Macau, todos reparámos da enorme assistência chinesa, portanto eles também gostam de ver, tal como as comunidades lusófonas, claro. As modalidades desportivas não são profissionais e os jovens pensam no futuro e não encontram respostas profissionais dentro do sector desportivo. Em Macau a mentalidade desportiva está uns furos a baixo de muitos países e regiões da zona. O Instituto do Desporto sempre apoiou a modalidade de hóquei, mas não pode passar só pela questão monetária, tem de passar por outro tipo de apoios.
Por exemplo…
Por exemplo, existir uma lei que permita facilitar dois a três meses antes das competições, que os atletas treinem como deve de ser, para que os resultados apareçam. Essa lei não iria deixar ninguém prejudicado, pois é apenas um curto espaço de tempo, onde está em jogo o nome de Macau. Como neste Asiático, o apoio monetário que o IDM deu foi só para deslocação, hotel e alimentação. Tudo o resto tivemos que arranjar junto de entidades privadas, a quem agradecemos muito, pois permitiu-nos comprar para as três selecções, roupas quentes para suportar o clima muitíssimo frio em Dalian.
A Associação tem feito tudo o que é possível?
Sim, desde que cheguei a Macau, existiu sempre preocupação por parte da APM, em fomentar e afirmar a modalidade. A associação tem realizado grande trabalho. Por exemplo, os campeonatos locais, realização de três Mundiais em Macau, realização de vários torneios internacionais, o facto de, do nada, criar uma equipa de in line, patins em linha, e ainda atletas de corridas em patins, para não ficar somente virada para o hóquei tradicional. Há elementos da APM que fazem parte de entidades internacionais e já ocuparam altos cargos a nível mundial. Não se pode fazer mais com as condições que temos, que são muito poucas. Tanto a nível de selecções como de querer dar treino a novos alunos.
Quais as principais dificuldades para o hóquei em patins em Macau?
Falta de um pavilhão quase a tempo inteiro e com um piso próprio. Onde estamos a treinar não é o ideal para a modalidade, o piso é de borracha. Mas existem em Macau pavilhões com o piso para o hóquei, como o pavilhão do Estádio de Macau e todos os outros pavilhões recentemente construídos. Sem um “quartel general” onde se possa fazer todo o planeamento da época, com objectivos, é muito complicado. Tanto o hóquei como a APM irão continuar a ter grandes dificuldades no futuro. Apesar de tantos obstáculos, a selecção que representa Macau tem prestigiado muito o nome desta região em vários locais do mundo. Como aconteceu agora no Campeonato Asiático brilhantemente conquistado. Neste campeonato também, tiveram de ultrapassar algumas dificuldades, e não somente as temperaturas baixíssimas. Os obstáculos começam em Macau. Treinos sempre limitados, porque vários jogadores trabalham na privada e com horários desencontrados dos dias de treinos, portanto para este Asiático 2009 só houve o máximo de cinco treinos com os 10 seleccionados. A preparação só foi possível iniciar-se em Outubro. Ultrapassámos as desvantagens encontradas no ringue em Dalian, pois em 15 minutos possíveis, de adaptação, que é o tempo oficial, era tentar adaptar ao ringue e ficar mais seguros de todas essas desvantagens. Para uma equipa muito técnica como a nossa, todos os pormenores são importantes. O facto de todos os dias os jogadores e jogadoras irem ficando doentes, lógico que o factor físico é prejudicado. Aí temos de buscar forças onde nem nós sabemos que elas existem. Temos sido uma equipa muito unida e humilde. As más arbitragens também não ajudaram muito ao espectáculo. Naturalmente, todos querem ganhar ao campeão Asiático, por isso nos criam muitas dificuldades. A alimentação também não foi a adequada para atletas que estão em competição. Não foi nada fácil resolver e achar alternativas para todas as situações em tão pouco tempo.
Qual a partida em que foi treinador pela primeira vez?
Foi aqui em Macau, nas camadas jovens do Benfica, sei que ganhei mas não me lembro contra quem. A nível de selecção foi no Mundial no México em 1996, mas também não me recordo contra quem foi.
Há alguns anos jogador-treinador, uma dupla responsabilidade…
Sim, é complicado, mas penso ter gerido essa função com a confiança dos presidentes da APM. Tem algumas vantagens porque posso sempre intervir no jogo directamente, e ao mesmo tempo, além de jogar, resolvo em simultâneo tudo o que envolve a partida, tácticas, substituições, pedido de tempo para descanso, o que falar aos atletas nesse minuto, correções a fazer, acalmar e dar aquela palavra de ânimo aos jogadores, mesmo aqueles que por vezes não vão para dentro do campo. Em suma, incentivar todos em sólido espírito de grupo. Os atletas que dirijo respeitam-me e tentam ser o mais profissionais possível, demonstrando isso nos jogos e nos treinos.
A selecção portuguesa, que tantos títulos conquistou, também passa por algumas remodelações. Tem acompanhado à distância os sucessos e insucessos daqueles hoquistas?
Sim, tenho acompanhado. A selecção portuguesa tem de saber perder e aprender com esses erros, mas também existe o jogo de bastidores onde se decide muita coisa… E aí Portugal tem saído a perder. Também não nos podemos esquecer que as outras selecções investiram na modalidade, e agora colhem frutos, como no caso da Espanha. Temos tido muito mais sorte nos escalões jovens, levando a melhor sobre a Espanha. As alterações às regras, penso serem benéficas para a equipa portuguesa que é muito técnica, tirando partido de uma excelente patinagem e bons executantes. Antes existiam jogos onde as equipas mais fracas recorriam constantemente às faltas para travar os portugueses. Com as novas alterações a selecção portuguesa irá de novo dar alegrias.
Importante para qualquer modalidade são as classes mais jovens. Em Macau qual o ponto da situação?
Realmente é a base de qualquer modalidade. Anteriormente já falei na falta dum pavilhão. Outro factor negativo é a formação de jogadores que por razoes pessoais saem de Macau, para terminar os estudos, por exemplo. A situação neste momento é estável, existem, pela Casa de Portugal ,cerca de 20 atletas, e a APM também tem em formação, e distribuídos por várias escolas, cerca de algumas dezenas de praticantes.
Pergunta semelhante quanto à nossa selecção feminina.
A nossa selecção feminina no Asiático também esteve bastante bem. Conseguimos encurtar os resultados em relação ao último Asiático, e até marcou dois golos. Se a equipa masculina que tem muito mais experiência sentiu enorme dificuldade em ultrapassar todos os factores negativos, imagine a feminina. Temos algumas jogadoras a praticar em Portugal, mas por motivos escolares não lhes foi possível contribuir. Esta situação é igual à masculina. Temos excelentes jogadoras, muitíssimo interessadas em praticar grandes competições, o que é sempre estimulante para prosseguirmos o nosso trabalho.
Aquela pergunta sacramental. Continua a achar óbvio que o hóquei em patins deva ser incluído nos Jogos da Lusofonia?
Sim, de todas as modalidades é a única com mais razão de estar nesses Jogos, por toda a história que envolve o hóquei. Não esquecer que durante alguns anos a base da selecção portuguesa foram jogadores vindos de Moçambique. Também implementámos o hóquei no Brasil, Angola, Macau, pelo menos são cinco. Já se fazia um torneio importante mas as politiquices quando se envolvem com o desporto…
Ainda há espaço, nesse seu reconhecido romantismo consequente pelo hóquei em patins, para a esperança de melhores dias?
Espero que sim, embora não esteja muito confiante. Quando no topo da modalidade, a FIRS, as coisa não são feitas com transparência em prol da modalidade, tudo por aí a baixo tem as suas consequências. Fazem-se e tomam-se muitas decisões que não abonam nada a modalidade. A primeira decisão que já deviam ter tomado, e que já transmiti tanto ao presidente da APM como aos responsáveis da FIRS, era existência de um só Mundial. E a forma de se chegar a esse Mundial era um bocado como se faz no futebol. No caso da Ásia, era o Campeonato Asiático que defendia quais os países a ter acesso ao Mundial. Na Europa seria o europeu, mas eles não querem porque alguém tinha que ficar de fora. Esta decisão iria ser bem vista por países mais fracos, que também teriam oportunidade de disputar um Mundial. Penso que até hoje só existiu um quase-Mundial, que foi em 2006 nos Estados Unidos onde estavam quatro continentes representados. A palavra mundial diz tudo.
Para se ser desportista não basta ser praticante, é necessário cultura desportiva?
É verdade. É preciso amar essa modalidade. Como costumo dizer “damos nós mais ao hóquei do que o hóquei nos dá a nós “, e quem gosta mesmo do hóquei, tem de fazer muitas opções ao longo da carreira, tais como não andar anos e anos nas noitadas, muitas festas de aniversários que coincidem com os treinos, etc.. Temos de pôr os treinos em primeiro lugar. As férias pessoais, devemos gozá-las depois do compromisso cumprido. Tenho tentado ser o mais profissional possível dentro deste desporto amador. Também é muito importante o apoio da família. Esse tenho tido, principalmente da minha esposa, que sempre está ali para dar uma força.
Como cidadão radicado em Macau há quase duas décadas, como observa todas estas transformações, principalmente nos últimos anos, e aquelas que previsivelmente se avizinham, designadamente em termos de construção civil que é o que mais imediatamente salta à vista?
Não gosto do Macau actual, muitos casinos, muitos prédios, muita confusão, muito oportunismo, a falta de sensibilidade das pessoas e de algumas entidades que gerem o território, o excesso de multas rodoviárias, a falta de educação dos polícias de trânsito, a falta de parques para os carros. Ainda não houve ninguém com a cabeça no lugar, e que não pense só em dinheiro e ter lucro, porque ninguém leva nada para de baixo da terra. Fazer um grande parque de estacionamento principalmente na baixa da cidade. Macau era muito mais castiço, mais cultural. Aquelas pequenas coisas típicas de Macau estão cada vez mais a desaparecer. Agora é o oportunismo, o dinheiro fácil, o dar aos “amigos “ dinheiro a ganhar com grandes obras.
E o que mais deseja relacionado com o hóquei em patins?
Um Pavilhão e a continuação, mesmo contra uns tantos, de bons resultados e que esta família do hóquei continue sempre unida e com garra, a incentivar-nos.
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