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COMO VAI O HÓQUEI JOVEM NO CENTRO DO PAÍS
TÃO MAL TRATADO QUE ESTÁ A SER
Este artigo tem por objectivo alertar em particular os responsáveis máximos do HÓQUEI EM PATINS EM PORTUGAL e no geral os dirigentes e treinadores para a realidade existente e para onde caminhamos.
Não querendo ser pessimista, vou começar pelo fim. A médio, longo prazo o Hóquei Patins vai-se cingir ao Porto e Lisboa com um número de equipas que terá tendência a diminuir. NÃO É FUTURO!
Quando se começa uma casa é pelas fundações que normalmente sustentam o que se irá construir por cima.
No desporto não é diferente e é na iniciação que se começam a criar as fundações do que se irá desenvolver. É nos escalões de benjamins e escolares que, predominantemente, se cria o gosto pela modalidade, quer por praticantes quer pelos pais a par com o treinador que são sem dúvida, nesta fase, as peças mais importantes.
Na região centro do País as três associações existentes, Ribatejo, Leiria e Coimbra juntaram-se (felizmente e finalmente) proporcionando a todos os praticantes algo que até ali era praticamente impossível ser experimentado – campeonatos mais competitivos e melhor desenvolvimento da modalidade. Todos ganhamos.
Nesta época, 2010/2011 também se decidiu efectuar encontros nos escalões mais baixos (benjamins e escolares). E é aqui que começam a surgir problemas que levam a que uma pessoa ligada à modalidade, possa começar a ficar seriamente preocupada, como é o meu caso.
Senão vejamos – em Setembro de 2010 inscreveram-se para os convívios 17 equipas de escolares e 14 de benjamins.
A 6 de Outubro, ainda sem ter começado os convívios, tínhamos 12 equipas de escolares e 8 de benjamins, tendo desistido num total 11 equipas. 11 EQUIPAS! De referir que não foram contabilizadas algumas equipas que nem sequer se inscreveram dadas as restrições impostas no artigo 55º do Regulamento Geral de Hóquei em Patins (RGHP).
O que se passou? Porque razão as equipas desistiram?
Foram contactados alguns dirigentes no sentido de saber porque razão tal se verificou e cheguei à conclusão que houve dois motivos: o primeiro de ordem financeira (cerca de 10%) e o 2º motivado pelo artigo 55º do RGHP (cerca de 90%).
O artigo em causa foi criado para desenvolver a base da modalidade onde os princípios gerais estão correctíssimos no que concerne à formação do jovem praticante.
No entanto, a realidade do País não é homogénea. A distribuição da população mesmo no centro varia muito de região para região e mesmo para uma cidade, por vezes, torna-se difícil criar equipas com as exigências do artigo em causa.
Das equipas que desistiram praticamente todas tinham condições para participarem na prova se o regulamento não aplicasse as alíneas 3.4.2 (Todas as equipas devem apresentar dez atletas, incluindo obrigatoriamente 2 guarda-redes), e 3.4.3 (Nenhuma equipa pode participar num jogo com menos de oito atletas, sendo que dois deles são, obrigatoriamente, guarda redes).
O risco das crianças abandonarem prematuramente a modalidade é sem dúvida muito maior. Será que ninguém pensa nisto?
As 3 associações e bem, fizeram cumprir o artigo 55º mas as consequências estão à vista. O calendário dos jogos de convívio tardava em sair dado que em cada semana desistia uma ou mais equipas, pois num último esforço os clubes acabaram por não conseguirem cumprir as exigências do regulamento. O QUE É QUE ANDAMOS A FAZER? A DAR UM TIRO NO PRÓPRIO PÉ!
Tenho tidos contactos com outras realidades de outros países nomeadamente Espanha, França e Suíça e vi equipas iniciadas e juvenis só com um guarda-redes, MAS JOGAVAM.
Nos escalões de infantis para cima não se nota qualquer tipo de preocupação de cumprir com mínimos, embora também os tenham. Bastam apenas 5 jogadores (2 guarda-redes). O que é certo é que jogam. NO MÍNIMO 5 JOGADORES! 3 AVANÇADOS MAIS 1 GUARDA-REDES E OUTRO SUPLENTE.
Vejam a aberração e a incongruência do assunto. A título de exemplo supostamente eu teria uma equipa com 3 escolares do primeiro ano e 4 escolares de último. De acordo com o artigo 55º do RGHP não posso participar naquele escalão, mas se subir os 4 escolares a infantis (artigo 5º nº 5 do RGHP) então a equipa que não pode participar em escolares pode participar em infantis. MAS O QUE É ISTO? ANDAMOS TODOS A DORMIR?
Nesta época, há pelo menos um clube nesta situação. Pode jogar com 3 jogadores no escalão imediatamente abaixo e subiu os restantes que também têm idade de escolares e ESTÁ FEITA A EQUIPA DE INFANTIS!
Depois vimos jogadores com 9 anos a disputar bolas com outros de 12 anos com 30 cm mais altos e 30 kg mais pesados. A integridade física não será posta em causa? Em infantis será normal um treinador (com bom senso) proibir o seu jogador rematar à baliza adversária para não magoar o jovem que tinha uma diferença abismal de estatura pois tratava-se de um escolar de 1º ano a jogar com um de infantil de 2º.
Não seria normal aquela equipa estar a jogar nos escolares? Não vou referir o nome do clube mas foi um dos que desistiu em escolares, apesar de estar inscrito no início da época, naquele escalão.
Compreendo que o artigo 55º foi criado para que os clubes pusessem todos a jogar dando mais importância a esse facto em detrimento da vitória. Deixar um benjamim ou escolar no banco durante todo o jogo sem jogar, não é com certeza, a melhor maneira de formar jovens praticantes. Leva, sem dúvida, ao abandono de praticante e pais que são eles que os levam aos treinoa, que os equipam, etc.
Mas vamos pôr na balança de um lado a “campeonite”, os estratagemas tristemente engendrados por alguns supostamente treinadores da formação e do outro lado equipas em regiões onde a
população não abunda e onde, por vezes só têm no momento aqueles 6 ou 7 jogadores. Para onde é que o prato da balança tomba?
Como treinador, formador e dirigente posso muito bem viver ao lado daqueles que só querem ganhar utilizando só os mais dotados, MAS, o prato da balança tomba, sem dúvida, para o aparecimento de novas equipas que apesar de não cumprirem com os mínimos referidos no artigo 55º, podem dar alguma continuidade à modalidade naquela região, chamando mais amigos para praticarem com eles.
Na conjuntura económica e social actual será que já alguém pensou fazer uma análise SWOT (pontos fortes, pontos fracos, oportunidade e ameaças) à modalidade? Será que andam distraídos? Ou terão os responsáveis pela modalidade palas nos olhos que só sabem olhar para a frente?
Identificar uma ameaça neste momento é muito fácil – o futsal. Esta modalidade está em pleno crescimento. Porquê? A nível de infra-estruturas pode ser praticado nos campos de futebol, basquete, andebol, etc.; a nível de custos os ténis, os calções e a camisola que usam na escola, servem para iniciar a actividade, ora custos praticamente iguais a zero.
As crianças querem é jogar e se o não fizerem no hóquei os pais levem-no para outra modalidade. O futsal é sem dúvida uma excelente alternativa. Até mesmo para o futebol onze. As crianças não andam à chuva e na lama e quando forem mais velhos poderão sempre efectua a migração de futsal para o futebol. ATENÇÃO!
Há 30 anos atrás antes de jogar hóquei andavam um e às vezes dois anos a aprender a patinar. Agora a realidade é diferente, os estímulos são diferentes, o leque de ofertas é imensamente superior e dificilmente um dirigente ou treinador consegue aguentar um praticante na modalidade que pratica sem este ter oportunidade de fazer aquilo que mais gosta – JOGAR.
Se no hóquei existe a limitação de infra-estruturas aliada ao custo de material e se juntarmos ainda outras limitações no âmbito dos regulamentos que dependem directamente dos responsáveis pela modalidade, estamos a criar inconscientemente razão para que os pais procurem outras modalidades.
JÁ ALGUÉM PENSOU NISTO. VAMOS FOMENTAR O DESAPARECIMENTO DO HÓQUEI NA ZONA CENTRO DO PAÍS PARA NÃO FALAR NO ALGARVE E ALENTEJO?
SERÁ QUE OS RESPONSÁVEIS AINDA NÃO PENSARAM NISTO?
Já pensaram também na realidade do hóquei feminino?
Vêem-se equipas mistas, mesmo em seniores, francesas e alemãs. EM TODOS OS ESCALÕES VÊEM-SE EQUIPAS MISTAS. Em Portugal, antes era até escolares depois até iniciados. O QUE É QUE SE GANHOU COM A ALTERAÇÃO? PORQUÊ ATÉ AOS INICIADOS? PORQUE NÃO ATÉ AOS JUNIORES?
Será fruto do acaso que a classificação do recente campeonato do Mundo o 2º lugar da França, o 3º da Espanha, o 4º da Alemanha e até mesmo o 6º da Inglaterra, todos à frente de Portugal, não
terá nada haver com a forma como é tratado o hóquei no nosso país? Será coincidência que aqueles países têm equipas mistas até em seniores e ficaram à frente de Portugal?
Existem vários casos que equipas mistas que têm uma ou duas praticantes do sexo feminino e que por não haver equipas femininas na região, param aos 14 anos de praticar a modalidade de que tanto gostam. Ficam a ver a sua equipa a jogar em juvenis da bancada. Desde os benjamins que jogam hóquei e agora? Dizem os entendidos que são 10 anos a aprender para praticar 10 anos. O que se verifica é que foram 10 anos a aprender para de seguida DESISTIR.
Deixo aqui um desafio aos clubes, aos dirigentes e às Associações: escrevam e reclamem sobre o assunto.
NÃO BASTA CRITICAR NOS PAVILHÕES E CAFÉS E ENCOLHER OS OMBROS!
A época passada foram vários os casos de clubes que em conversa informal se queixaram que não participavam porque tinham equipas mas não em número suficiente; outros porque tinham equipas mistas e que para a próxima época as raparigas iam para de jogar.
AOS CLUBES FAÇAM-SE OUVIR.
RECLAMEM POR ESCRITO.
NÃO SE LAMENTEM EM BLOGS QUE AS COISAS NÃO ESTÃO BEM.
APAREÇAM ÀS REUNIÕES DAS ASSOCIAÇÕES E DEMONSTREM A VOSSA INSATISFAÇÃO.
Espero que com esta reflexão se possa alterar algo em prol da modalidade e que para a próxima época haja alterações ou pelo menos uma tentativa de se melhorar o que não está manifestamente bem.
Francisco Mogas
Treinador de Hóquei patins 2º Nível
Presidente do Hóquei Clube de Santarém